O primeiro livro da Ação da Cidadania marcou os 20 anos da entidade e celebrou a saída do Brasil do Mapa da Fome, da ONU.
O segundo, de 2018, denunciou que a fome estava de volta.
E agora lançamos o terceiro: “Cidadania, a Fome da Fomes”, enquanto 15% da população brasileira não tem o que comer.
Muitos devem se perguntar porque a Ação da Cidadania faz um livro a cada 5 anos.
A melhor resposta é que este país muda, em poucos meses, o que outros países levariam décadas para mudar. Nossas transformações, ou melhor, rupturas sociais, políticas e econômicas desafiam qualquer previsão ou planejamento, e certamente causam espanto até nos mais criativos roteiristas de ficção. O Brasil, de fato, não é para os fracos de coração.
Assim foram os últimos anos, os piores que este país viveu, que começou com a extinção do CONSEA no início de 2019, e seguiu numa sequência sistemática de retrocessos sociais contra a população mais pobre deste país. Quando a pandemia passou, a negligência do governo Bolsonaro deixou 700 mil mortos pelo Covid, e 125 milhões de pessoas em insegurança alimentar.
É neste cenário que o “Cidadania, a Fome da Fomes” narra a (re)Ação à essa crise humanitária, com a maior distribuição de alimentos da nossa história, ampliando o número de campanhas e transformando a entrega de comida numa ação permanente, desde 2020. O livro também mostra como diversificamos nossas atividades com hortas, cozinha solidária, além da mudança de espaço físico e um novo modelo de gestão. E paro por aqui com os spoilers.
Dividido em duas partes, coube ao Plínio Fraga escrever sobre estes últimos 5 anos, e à Ana Redig revisitar os primeiros 25 anos da entidade. Pela primeira vez teremos uma versão digital em espanhol e inglês do livro, que possibilitará uma distribuição internacional. O Brasil tem muito o que ensinar ao mundo sobre o combate à fome, seja através das políticas públicas, seja pela força da nossa mobilização social.
Mas o objetivo do “Cidadania, a Fome da Fomes” não é ser uma publicação institucional sobre a Ação, de auto elogio, mas inspirar entidades e pessoas que entendem a importância do terceiro setor como a locomotriz da cidadania, num país desde sempre desigual. Se ele servir como um manual de incidência política do cidadão para enfrentar os abismos sociais da nossa sociedade, já cumpriu sua missão.
Que no próximo livro a fome seja passado.
Mas, assim como a ditadura, que não se esqueça, para que nunca mais aconteça.